A
SUPREMA REALIZAÇÃO
(3ª Parte)
Rodolfo Domenico Pizzinga
Informação Preliminar
Este estudo se constitui da 3ª parte de um conjunto de fragmentos garimpados e eventualmente comentados na obra A Suprema Realização, de autoria de Jiddu Krishnamurti, que reúne o essencial de algumas palestras realizadas pelo grande pensador, na Índia, em 1965, nas quais ele abordou temas de crucial importância como: só a mente lúcida vê o real, o poder do amor, a virtude do silêncio, uma diferente maneira de viver, vida criadora, urge que nos transformemos, morrer para o passado etc.
Breve Biografia
Jiddu Krishnamurti
Jiddu Krishnamurti (Madanapalle, 11 de maio de 1895 – Ojai, 17 de fevereiro de 1986) foi um filósofo, escritor, orador e educador indiano. Proferiu discursos que envolveram temas como revolução psicológica, meditação, conhecimento, liberdade, relações humanas, a natureza da mente, a origem do pensamento e a realização de mudanças positivas na sociedade global. Constantemente, ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano, e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, seja política, seja social. Uma revolução que só poderia ocorrer através do autoconhecimento, bem como da prática correta da meditação do ser-humano-aí-no-mundo liberto de toda e qualquer forma de autoridade psicológica.
O cerne dos seus ensinamentos consiste na afirmação de que a necessária e urgente mudança fundamental da sociedade só poderá acontecer através da transformação da consciência individual. A necessidade do autoconhecimento e da compreensão das influências restritivas e separativas das religiões organizadas, dos nacionalismos e de outros condicionamentos foram por ele constantemente realçadas.
Fragmentos Krishnamurtianos
Você já reparou que a maioria de nós dá sempre mais importância à idéia, e não à ação?
— Preferimos não mudar
do que arriscar.
Preferimos continuar
do que batalhar.
Preferimos horizontalizar
do que verticalizar.
Preferimos não olhar
do que confrontar.
Preferimos nos enganar
do que reajustar.
Preferimos remendar
do que restaurar.
Preferimos imitar
do que criar.
Preferimos ajoelhar
do que nos libertar.
Nós só poderemos operar, em nós mesmos, uma mudança efetiva, uma transformação bem-sucedida, sem fugir à sociedade, quando nos libertarmos das idéias [e das diversas formas de tradição que nos impuseram].
Deus – ou qualquer outro nome – é uma engenhosa invenção do homem, a qual ele mascara com incenso, rituais, oblatas, sacrifícios, várias formas de crenças e de dogmas, idéia que está a separar os seres-humanos-aí-no-mundo em católicos, evangélicos, judeus, hindus, muçulmanos, parses, budistas etc. Essa engenhosa estrutura foi erguida pelo ser-humano-aí-no-mundo, e o próprio ser-humano-aí-no-mundo, seu inventor, nela se acha submerso e aprisionado. Sem compreendermos o mundo atual, o mundo em que vivemos, esse mundo de agonias, de confusão, de sofrimentos, de ansiedades, de desesperos, de aflições, de solidão total, coisas que produzem um sentimento de absoluta inutilidade da vida, se não compreendermos tudo isto, a mera aquisição de [novas] idéias e de mais [novas] idéias, por mais satisfatórias [e explicativas] que sejam, nenhum valor qualquer uma delas terá. [O exemplo mais flagrante disto é a tal Teoria Cosmológica do Big Bang ou da Grande Expansão, mais uma babaquice pseudocientífica que acabará por cair em descostume. Igualmente a absurda Teoria da Retrocausalidade.]
— Quando eu era garotinho,
e me preparava para fazer a 1ª Comunhão,
entre outras coisas, me ensinaram:
Deus é um espírito perfeitíssimo e eterno,
criador do céu e da Terra e nosso Pai.
Jesus Cristo é o Filho de Deus feito homem.
Jesus Cristo foi enviado à Terra para nos salvar.
Jesus Cristo fundou a Igreja Católica.
A Igreja é a casa de Deus, onde nos reunimos para rezar.
Ter fé é acreditar em Deus e em tudo o que Ele revelou.
Pecado é uma desobediência à Lei de Deus Pai.
Sinceramente, eu nunca entendi nada disso.
Na verdade, isto me trouxe uma aflição gigantesca.
Já naquela época, eu pensava ± assim:
supondo que exista um Deus,
como alguém tão limitado poderá saber
o que Deus é e o que Deus não é?
O que Deus quer e o que Deus não quer?
O que Deus gosta e o que Deus não gosta?
O que Deus pensa e o que Deus não pensa?
O que Deus faz e o que Deus não faz?
Ora, se foi Deus quem do nada criou tudo,
a responsabilidade toda de tudo só pode ser Dele.
Mais tarde, comecei a questionar:
será o Deus dos judeus diferente
do Deus dos muçulmanos?
Será o Deus dos hinduístas diferente
do Deus dos budistas?
Será o Deus dos católicos diferente
do Deus dos xintoístas?
Será o Deus dos candomblecistas diferente
do Deus dos umbandistas?
Será o Deus dos UTs diferente
do Deus dos Ts, dos ETs e dos ITs?
Será o Deus da Via Láctea diferente
do Deus da Galáxia do Girassol?
E o tempo passou e continuei sem entender.
E o tempo passou e, um dia, eu me libertei
de todas essas invencionices escabrosas,
nec caput nec pedes, nec pedes nec caput.
E o tempo passou e eu decidi
transmitir a todos a minha experiência,
para que todos possam se libertar também.
Intuí que não existe salvação de nada,
e que cada ser-existente-no-Universo
é um elo de uma corrente ilimitada.
Não há elos preferidos ou escolhidos.
Não há elos endemoniados nem elos santificados.
Não há elos malditos nem elos benditos.
Não há elos salvos nem elos condenados.
Não há elos mais isto nem elos mais aquilo.
Não há elos menos isto nem